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sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O RITO MODERNO OU FRANCÊS

O ano de 1717 é tido como o de nascimento da Maçonaria, tal como a conhecemos nos nossos dias, assim como reconhecemos o Iluminismo como tendo aparecido, na Europa, em 1680. Em pleno apogeu do movimento, portanto, pode-se afirmar que a Maçonaria especulativa surgiu como associação destinada ao aprimoramento moral e social do homem a partir do Séc. XVIII. Esses Maçons eram, na sua maior parte, conhecidos pela denominação de antigos (ou ex-operativos) e aceitos (ou iniciados sem serem construtores).
Segundo os pensadores do Rito Moderno, o universo é governado por leis imutáveis com as quais o homem se inter-relaciona. A ordem cósmica é totalmente uniforme e de nenhuma maneira deve ser entendida como milagrosa ou resultante de um poder divino. A sociedade ideal é a mais natural; o selvagem pode ser, eventualmente, superior ao civilizado absolutista que, dentro do seu anacronismo, perpetua o despotismo material e a tirania clerical (apud José Castellani e Frederico Guilherme Costa, in Manual do Rito Moderno, A Gazeta Maçônica, 1991, São Paulo). Ora, desta forma, segundo os autores citados, falar em Maçonaria Moderna é o mesmo que louvar o movimento iluminista, cujo apogeu denominamos ilustração.
A Maçonaria Moderna adota uma posição coerente com a religião natural, que busca reunir os homens em um centro – o Centro de União – como Anderson o chamava. Caracteriza um deísmo em que Deus não é negado mas não se lhe atribui a função de Criador ou primeiro motor da vida. Os enciclopedistas franceses esposavam a idéia de que a razão deveria nortear a aquisição dos conhecimentos, evitando-se a atribuição de motivos ocultos, malignos ou mágicos aos fatos que a ciência, pelo estudo, teste e raciocínio, poderia explicar. Assim, Voltaire, Diderot, Montesquieu, D'Alembert, Rousseau e outros rechaçavam o teísmo exacerbado, reagindo contra o excesso de intervenção do poder religioso atemporal sobre o poder do Estado, temporal.
O racionalismo do Rito Moderno tem muita semelhança com aquele proposto por Rousseau, em seu Contrato Social, que procurou fundar uma sociedade e um Estado baseados na razão. Segundo o Rito, a moderna Maçonaria, ao nascer, representa uma das mais extraordinárias manifestações da Idade da Razão, por satisfazer ao deísmo e ao racionalismo e, ainda, pelas incertezas que desviava um dos aspectos de suas atitudes racionais para o mistério.
A Maçonaria moderna surgiu quando, em 1717, quatro lojas de Londres se reuniram para formar a Grande Loja de Londres, orientando-se para os estudos teóricos e afastando-se da prática da construção. As Constituições de Anderson, de 1723, contém a história da Instituição, os princípios gerais, posteriormente convertidos em controvertidos landmarks, e as obrigações dos Maçons.
A denominação de Rito Francês aparece, inicialmente, num processo de uma deliberação do Grande Oriente de França, de 25/12/1799, sobre uma loja de Nova Iorque sob o Rito Francês. No século seguinte, o mesmo rito será conhecido como Moderno, o que se constata no Guide des Maçons Écossais ou Cahiers des Trois Grades Symboliques du Rit Ancien et Accepté (idem). Tudo indica que o nome de Rito Francês e, depois, Rito Moderno, foi utilizado pelo Grande Oriente de França em oposição ao nome Escocês, usado por vários ritos praticados na França, no século XVIII.
Sabe-se que a Maçonaria foi introduzida, na França, por volta de 1725, por emigrados jacobinos ingleses. Até 1751, praticava-se um rito uniforme, em todas as lojas da França, quando surgiu, na Inglaterra, a Grande Loja dos Antigos, que denominou, incontinenti, a Maçonaria de 1717 de Modernos. Daí a longínqua origem da denominação do Rito Moderno, dado ao Rito Francês pelos Maçons do Rito Escocês Antigo e Aceito, fiel à tradição de 1717.
Nota-se, pela leitura dos antigos rituais franceses, que a tendência deísta desde logo se caracterizou, como a ausência do Livro da Lei (a Bíblia), o juramento sobre os Estatutos da Ordem, diante do Grande Arquiteto do Universo (e não sob seus auspícios, inspiração ou proteção). O ritual de 1785 não é cristão e não faz referência a nenhuma tradição religiosa em particular. O juramento, a propósito, começa assim (idem): "- Sim, Grande Deus, eu prometo ser fiel à Santa Religião...", sem especificar qual é ela. Este exemplo é o mais antigo de um juramento onde não há referência ao cristianismo.
O Altar dos Juramentos nos templos é uma invenção relativamente recente (e até hoje ainda não está fixada). No princípio, os compromissos solenes eram realizados à frente da mesa do Venerável, que correspondia ao Santo dos Santos do Templo de Salomão. Posteriormente, o Livro da Lei passou a ser colocado em um tamborete ou mesinha, à frente do altar, como uma extensão deste. A partir de então, essa mesinha tomou outras formas, até chegar à triangular de hoje, além de peregrinar do Oriente ao Ocidente e vice-versa, em busca de uma posição ainda não consensual, nos dias de hoje. Por isso, o Rito Moderno manteve-se fiel à antiga prática e aboliu a mesinha.
Até 1740, não havia Bíblia no recinto do templo maçônico, o que começou a aparecer por ordem do Grão Mestre da Grande Loja de Londres, que alegou que os maçons operativos prestassem juramento sobre esse livro. Na realidade, tratava-se de obter o beneplácito da Igreja Anglicana que, opondo-se à Igreja Católica, seria um poderoso aliado contra a oposição ferrenha desta contra a Maçonaria – um gesto político, portanto. O Rito Moderno não incluiu o Livro da Lei em seus Rituais e o mantém em loja fechado, como peça decorativa.
O Rito Moderno é adogmático, desde 1877; isto é, ele não aceita cingir-se a afirmações axiomáticas que não sejam verificadas pelo estudo, pela reflexão e pela experimentação. Por isso mesmo, não abre seus trabalhos como nos ritos ditos teístas nem presta juramentos sobre a Bíblia ou qualquer outro livro conhecido como sagrado. Por outro lado, ele se manteve fiel à tradição antiga, de ter somente três graus: Aprendiz, Companheiro e Mestre, sem ceder à tentação de criar uma escada oligárquica de graus superiores, como os do Rito de Heredom seus descendentes. O sistema maçônico francês, portanto, sempre se voltou para o Humanismo, para a Filosofia Moral, o descobrimento do homem pelo homem, que é educado liberalmente, tornando-se digno, livre e de bons costumes. Ele combate qualquer tipo de agressão à vida e à dignidade de qualquer partícipe da Grande Sociedade, tratando com cuidado o nacionalismo exacerbado e o fanatismo de um poder centralizado.